sábado, 9 de agosto de 2008

Virgulino

No corre-corre da volante, patrulha cheia de “macacos”, se cortava o semi-árido no solado da chinela feito do couro de uma jegue mal-parida, chamada Tertuliana.

Corisco, ou Diabo Loiro, foi quem numa aparteada roubou de Zé Neném - o sapateiro dono da jumenta que fez a chinela de Virgulino - Maria Déa, mais conhecida como Maria Bonita.

Moço, no meio desse descombinado, Virgulino - cabra muito do macho - pagou dois conte de réis a Corisco pra ficar com a prenda, mas só por respeito à empreitada do amigo, pois se quisesse tomava de pronto, a muié do sapatero.

Se alguém se sentisse macho o suficiente para chegar bem de perto para contar, diria que no bando de Virgulino, tinha pra mais de cem cara, dos bicho marvado. Os bão, Virgulino cortava os bago e dava de comer pros porco e se a criação num comesse, aí o cabra morria sem direito nem a flô. Virgulino ria e dizia, ‘bago de frouxo nem porco come, antão mata logo pra num poluí o sertão’.

Desde aquele tempo Virgulino já tinha consciência ecológica desenvolvida.

Virgulino, certa feita, depois de matar 23 macacos de uma volante, já tarde da noite parou pra descansar e avistou Corisco ciscando que nem galinha choca no terreiro e gritou: “Tá com Gôgo capeta, que tanto ocê cisca nesse terreiro?”

“Perdi o cigarro general”, respondeu Corisco.

Virgulino - cumpadre velho de Corisco - sacou do papo amarelo e começou a atirar nas estrelas. Foi tanto do tiro, que o cano da cutia acedeu que nem fogueira.

Corisco em dois ‘sarto’ achou na clareza dos tiro a guimba que tinha perdido.

O povo que tava ao redor, começou a rir da feita do general, que começou a chamá-lo de lampião. “Quando num tem fogo nóis faz, nem que seja no tiro”, se gabava Virgulino.

Nas andança , cortando a aridez do sertão onde da sombra do mandacaru se buscava a força, nosso herói bandido, já tinha sido destaque do New York Times. Famoso lampião e seu time vencia de muito as disputas peladeiras que travavam com a volante. Entre espinhos e tiros, Corisco arrumou um amor: Dadá.

Virgulino, esse maravilhoso serial killer - assim como Lucas da Feira, que em 1807 veio a Rio para conhecer Don Pedro II - tinha um sonho: tomar banho em Lagoa de Cima, no desemboque do rio Urubu.

Dizem as más línguas que Salem Rod - depois de pedir a Dib´s R$1,00 do tradicional cafezinho - enviou a prefeitura de Triunfo, no interior de Pernambuco, um convite solicitando ao General Virgulino e seu bando, apoio logístico no embate que travaria contra a cachorra de Guarus.

Leio trecho de carta: “ Ilustríssimo General Virgulino. Sabedouro de suas feitas na limpeza dos ares sertanejos, mui respeitosamente, vimos pedir um apoio estratégico nessa batalha campal que travaremos contra os malfeitores e políticos de meias patacas, que atormentam o sono de nossos concidadãos .

Dizem, caro general, que na curva do meu rio, habita um jacaré de papo amarelo chamado Urural, e que foi esse mesmo jacaré quem comeu a mulher do coronel Ponciano de Azeredo Furtado. O louco do José Cândido de Carvalho ainda hoje acha que foi o Lobisomem. Pobre tolo! Mas Dib´s foi quem fez a foto do Jacaré, lá na curva da lapa, atrás da casa dos garotinhos que são amigos de Zezé Barbosa. Por isso, eu e seu exército acamparemos em Lagoa de Cima, e, ao cair da noite, em canoas atravessaremos a Lagoa Feia, e invadiremos Campos pela Baixada.

Sem mais para o momento, à vitória meu general!”

Te juro, se o General recebeu a carta eu não sei, mas Russo Peixeiro - político famoso lá de Ponta Grossa dos Fidalgos - jura de pé junto que encontrou em uma de suas pescarias, dois punhais e um óculos redondinho, igual aos de Virgulino. Quem confirma é doutor Pedro Nísio, advogado e filho de Russo.

Ah! Vocês acham que eu estou caçoando? Perguntem a Orávio de Campos. Seu Leco de Matinha jurava de pé junto que uma roda de jongo cantada em castelhano por Rafael Sanches - um argentino baiano - tinha visto a Matita Pereira de papo com boitatá, enquanto cortava o tronco pra fazer tambor.

Campos é assim.

Pena que Salem Rod foi viajar e não volta tão cedo... Foi tomar café com broa na casa de Dona Rosa - uma linda mulher que fez vida, com a vida que sempre quis.

Hoje, Patesko, Mundinho, Dona Rosa, Salem Rod, enquanto curtem o café escutam de Lord Broa piadas de carnaval e dão boas gargalhadas de nós.

É de nós. Pois somos nós que estamos com a banana na mão. E, em se correr o bicho pega e ficar o bicho come, dia 5 de outubro tem eleição.

E como não poderia faltar, Senador Iraja mandou um recado em seu novo Tele-Giz:

“Seja consciente! Respeite as mulheres, idosos e a mãe. Nem que seja a sua.”

Aproveite o dedo e aperte (ops) os números certos, certos, certos, certos piiiiiiiiiiiiiiiii

Confirma.


Por: Aloisio Di Donato